quarta-feira, fevereiro 19, 2025

A TRISTEZA DE NÃO TER INTERIOR




 O interior dá-nos interioridade. Estou inabalavelmente certo. Estou muito cansado de gente, fora da RTP, que trabalha comigo, há anos, e que me diz: tens de sair do registo dos velhinhos e do interior, ser mais urbano e falar para a malta mais ... nem sei o quê ( penso eu). Já desisti de explicar que tenho a sorte de a RTP me ter percebido e me permitir fazer televisão fora das cidades, junto de quem vive a vida sem deslumbre pela tontaria que, por vezes, a vida de cidade nos encaminha, e não são só os nossos mais velhos, ainda que os ame de paixão. 

Não é por eu ser agricultor de Trás-os-Montes que agora é que gosto do interior. Não, eu gosto do interior desde que me lembro de ser gente. Desde criança que viajo por Portugal. O sol do Alentejo, quando ainda havia girassóis e me deitava perto deles, do frio da serra da estrela, da neve no Marão e do silêncio do branco, do cheiro das laranjeiras do Algarve, da firmeza das beiras, do riso aberto e festivo do minho... E sim... sinto tudo isto mais autêntico quando saio das cidades. Conheço gente de uma cultura avassaladora, na proporção da humildade, gente que vive feliz na grandeza que a simplicidade tem, gente livre, gente serena, gente que enfrenta a dificuldade com determinação porque nunca se está sozinho no interior. A vida não é mais fácil no interior, até é bem difícil para alguns, mas é mais suculenta. Sabem quando abrem uma laranja e o sumo vos molha as mãos... é isso o interior. Nem todos percebem, fico feliz, porque não vão para o interior carregados com as suas dúvidas, medos e ironias palermas. Quem vive no interior tem interioridade, porque sabe que a vida é muito maior que um apartamento e uma fila de trânsito. Obviamente que conheço gente de várias cidades do mundo e estão cheias de interior, não faço a apologia de viva o campo e fora as cidades, nada disso. Mas é mais fácil dizer-se que quem vive no interior tem menos, do que quem vive numa cidade.. teoria tão errada. As pessoas do interior, as que ficam, percebem as cidades, mas a cidade, a política, não percebe o interior.

Não podemos viver todos no interior. Não temos todos os perfil de viver no interior. Mas todos deviam ter o conhecimento suficiente para perceber a grandeza da interioridade de quem vive no interior seja novo, seja menos novo, o fascínio é o mesmo.

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