Fui operado a um pulmão há 2 meses. Programado e preventivo. Já está tudo bem. Passado este tempo, olho para aquelas 3 semanas de novembro. Somos matéria frágil, achamo-nos imprescindíveis, imortais, charmosos, gloriosos e cheios de futuro. Eis o travão, a fragilidade do corpo. Nada de mal em não conseguir ir à casa de banho sozinho, não conseguir respirar na plenitude, nem dormir. Nada de mal porque, no meu caso, eu sabia que era provisório. E tantos os que enfrentam estas limitações e não sabem quando acaba o calvário? Não há nada como a doença e a fragilidade do corpo para dar ordem à vida, é o choque térmico que precisamos para valorizar a nossa integridade de agora, e a realidade de cada agenda do dia. E que todos possam pensar sempre no dia seguinte...
Porque será que quando olhamos para o passado as maiores marcas são as dores? Eu acho que é assim porque também foram esses os momentos de oportunidade para termos um pico de evolução. O outro lado da moeda. São duas dores, a circunstância e a mudança. Mas depois... e até que valeu a pena.
Na fase da minha operação, outra nota dos dias que me surpreendeu foi quem esteve. Tão bom receber colo quando nos sentimos efetivamente frágeis. Gente que está, o tempo certo, sabendo que quem está de cama não tem vida para cerimónias, nem longas conversas. Gente que se faz presente com gestos diários, simples e de delicado cuidado. Gente que cuida, mesmo longe. Também há os que usam a expressão se precisares de alguma coisa diz, e nunca mais querem saber, ou os que sabendo, não ligam nenhum. Eu percebo, a vida dos atentos não é para todos, porque a vida violenta a atenção. A Sophia dizia que o poema exige atenção. Eu também acho que a vida e o amor exigem atenção, sem ela...
E pronto, estejam atentos, há muitas formas de se estar, fazer notar e ajudar. E na doença, sendo possível, aproveitem a maravilha que é estar melhor no dia seguinte.
Sem comentários:
Enviar um comentário