É a mais pura das verdades. Não gosto de festas surpresa, homenagens e elogios. Mas apercebi-me que a recusa a quem nos quer fazer este agrado é um sinal de muita arrogância e pouca humildade. Como cultivo a gratidão e a humildade, aceitei a recente medalha de mérito cultural, oferecida pela câmara de Ovar, na pessoa do presidente Salvador Malheiro. Aceitei porque o Salvador Malheiro é um homem por quem nutro muito respeito. Aceitei porque era uma forma de eu cultivar os valores da responsabilidade, da capacidade de criticar, de me envolver, de ser mais humilde e melhor cidadão. Aceitei porque assim sou chamado a dar mais pela terra do meu pai, e concelho do meu berço, a cidade de Esmoriz.
Ovar é a cidade do azulejo, do mar, do cantar dos reis, do carnaval. É uma cidade feita de cor, praças pequenas com árvores antigas, recantos que apetece guardar e comércio tradicional. É um encanto de uma cidade. Quando era filho, ia com os meus pais fazer vida em Ovar, que dias felizes. Foi na biblioteca de Ovar que preparei grande parte da minha tese de Teologia. O furadouro, a sua praia. Os vareiros, a sua gente, nós que lhe conhecemos o sal.
Aceitei. Recebi a medalha e ficou a vontade de abrir as muitas ideias que tenho para esta terra, como cidadão. Tenho críticas a construir. Por tudo isto aceitar foi importante, é uma vaidade boa, a que incentiva a ser melhor. É preciso saber receber, tão importante como saber dar.