Há anos que cultivo a prática de ter plantas em casa. Recomendo. Não tenha muitas, tenha as que consegue cuidar. Que até podem ser muitas! Mas uma basta. As plantas enchem-nos a casa de raízes de amor, pureza, resiliência, sabedoria, paciência, pureza e serenidade. A minha mãe sempre teve muitos vasos de interior, e exterior. Era um amor às folhas, à terra, à semente. Quanto mais envelheço melhor percebo. Pouco depois da morte da minha mãe, fui buscar um vaso da sala. Chamei-lhe Margarida. Eu só queria que a margarida vivesse. Vivesse tudo o que a minha mãe já não viveria. No mês em que fez dois anos sem a minha mãe, a margarida em vaso começou a morrer, e morreu-me. Faz parte, eu sabia. Hoje decidi semear margaridas e procurar uma planta igual à minha margarida, em vaso. Irei conseguir. Para já as margaridas estão na terra para nascer. Porque da terra nasce a vida. E hoje, sem saber, ou até sabendo, um amigo do coração ofereceu-me uma toalha de mesa... com margaridas. É para isto que nos servem os amigos. Não para nos serem úteis, mas para serem atentos, delicados e oportunos no amor.
A amizade não substitui nada, enganei-me durante anos. A amizade não é a família que escolhi, porque perdi o conceito de família. A amizade dá-nos flores que não morrem mas que enchem uma casa de vida e festa, à volta de uma mesa e de um coração, mesmo que o coração ainda esteja ferido pela ausência eterna, aqui sei que a eternidade existe.
Sorrio, porque tenho um vaso com sementes de margaridas, e uma toalha com margaridas estampadas, e um amigo que sabe da respiração luminosa de uma flor.
Até amanhã.