Onde estás, Deus? Onde vives, energia positiva, focada, enraizante? Para onde foste parar corrente otimista e plena de orientações? Vivemos dias que para muitos já foi um filme de cinema, ou uma série incrível, e agora é a realidade. Vivemos dias de medo, isolamento, desconfiança, incerteza, e uma luta esgotante por nos mantermos saudáveis no corpo e mente. E tenho toda a legitimidade em perguntar pela fé que me sustenta. Tenho a certeza que sairei mais forte na resposta, mesmo que não seja a que eu quero. Sempre gostei da dúvida, o que nunca gostei foi de viver nela.
Esta não é uma viagem fácil.
Este 2º confinamento é um insulto,
porque mais vale um sacrifício de vida do que a vida em sacrifício. Escolas
fechadas, igrejas fechadas, grandes centros de comércio fechados, cultura fechada.
Todos por igual, até para sentirmos que todos estamos em pé de igualdade.
Estão-nos a morrer mais de 200 pessoas por dia e milhares em urgência, e não
sabemos o que será dos infetados daqui a uns meses. Tanta dúvida face à certeza
inquietante que temos de ser rigorosos, severos no agir. Isto aplica-se aos que
andam de máscara no queixo, aos jantares de políticos, a eleições desorganizadas
e que em nada evoluíram, aos que ainda se escapam para casa uns dos outros, aos
que se juntam para um cigarro. Estão-nos a morrer amigos, familiares, vizinhos,
conhecidos. Os nossos idosos estão mais sós, e são vítimas de um tempo que lhes
deveria dar paz e serenidade, mas que lhes traz amargura e desorientação. E
todos somos culpados, sempre que não respeitarmos com sacrifício o que nos é
exigido, somos cúmplices da morte e da doença.
Não me atrevo a sentir desânimo,
stress, angústia. Que dirão os profissionais de saúde, os professores, os agentes
de autoridade. Principalmente, o que sentirão? Eles, as suas famílias, os seus
amigos… Queria andar para frente estes dias, mas não posso, pelo contrário,
eles parecem-me mais lentos e magoados de se viverem.
Mantenho-me à tona, claro que sim.
Confio no futuro. Confio neste minuto em que escrevo. Mas desconfio do
presente, deixei de me iludir, de entrar em piadas bacocas, de responder que
está tudo bem. Vivo o que nunca sonhei viver. Todos os dias pergunto, Deus, o
que queres de nós? Vou encontrando respostas… aprendi que nos quer no essencial.
Longo caminho, que merda de
tempos, o que havemos dizer destes dias, no futuro que virá?