sexta-feira, dezembro 25, 2020

BOM DIA, SR GOUCHA



 O meu Manel vai deixar de dizer bom dia a Portugal. Para mim, como cidadão, profissional de televisão e amigo, esta despedida marca uma era. Mais de 25 anos a acompanhar o despertar de um país, a desembrulhar entrevistas, emoções, surpresas, sorrisos e lágrimas, tradições e memória. O Manel é um apresentador com a lembrança do tempo, a delicadeza da dedicação, a preparação de cada conversa como se fosse a primeira.

 Receber tantas manhãs um programa dirigido pela batuta deste homem, merece-nos um Obrigado. Um gigante obrigado. No seminário eu fugia para espreitar a Praça da alegria. Gostava do jeito como o Manel arrumava as palavras, com ironia, e um linguarejar tão criativo. Depois, trabalhei ao seu lado, 2 anos. Já a vida nos havia ligado. Ver o Manel fazer televisão, é assistir ao ensaio dos melhores espetáculos do mundo. Tudo é um detalhe importante. Da roupa à pergunta.

O Manel vai deixar de nos dizer bom dia, e tudo será diferente, porque é de manhã que nos ajeitamos para o dia que vem, e o Manel arrumava-nos a curiosidade, o saber, a estória da história, e lá íamos para o nosso dia, um pouco mais completos. Ter um profissional de televisão que se delicia com o trajar de uma minhota em romaria ao mesmo tempo que nos esmiuça o novo livro (que leu sublinhou) de um ilustre autor da nossa praça, isto tem um nome, grandiosidade intelectual; porque somos feitos de todas estas matérias, e pobres daqueles cuja vida passa ao lado deste todo.

Sempre gostei da vida de manhã, muito graças ao Manel, que me ensinou que o dia e a sabedoria aproveitam-se desde cedo. Obrigado Manel, por mais de 25 anos de bom dia  (estou certo que chega aos 30).

Porque hoje, dia 25 de dezembro, é o teu dia, e detestas despedidas e homenagens, este texto é só um obrigado e parabéns. És um homem a quem a VIDA não deve nada, graças a ti!!

Teu, Hélder

domingo, dezembro 20, 2020

QUANTO MAIS NU MELHOR

 


Os dias passam e as casas ficam. As casas, as árvores, os rios e o mar. São os permanentes. O resto das coisas da vida vão com o tempo. Aos 45 anos pergunto-me sobre o que me fica... na verdade sinto que resiste o mais simples, autêntico, frontal, cru e despido de papeis.

Já vos aconteceu? Precisarem de sentir a areia nos pés, a terra nas mãos, o musgo nos dedos, o vento no pescoço, a água na pele? Ou de vazarem os armários da casa, tirarem a tralha das prateleiras, das gavetas, da alma? Vazar como vaza a maré. Ou tomar banho no mar, nu, nu, mil vezes nu, até que a nudez chegue aos ossos?

No CAOS será sempre o simples e o despido que vencerão, até no cérebro das coisas da vida, acreditem.


Até já