Gostava de passear-se pelo jardim
e de tocar nas suas flores, que eram como que a sua voz com raiz. Enquanto as
observava, deixava que o sol lhe escorresse pelo rosto, aumentando o brilho dos
seus olhos. Era uma mulher que gostava da luz pelas janelas e de flores em cima
da mesa. Até os seus vestidos tinham flores, das pequenas, e que ela havia
moldado e costurado numa das madrugadas dos dias que já passaram. Levantava-se
cedo. Dizia-me que é cedo que acorda a vontade de viver. Durante o dia
rodopiava-se pela terra e pela casa, que era branca; ao fim da tarde cheirava a
maresia no jardim, e muitas vezes a via parada a respirar-se, porque nem sempre
a vida lhe permitia grandes pausas para lufadas de ar. Nesses momentos, sentia-a
tão perto da perfeição, entre o mar e os jardins em flor.
Porque a vida pode ser feita com o melhor do passado.
Para a minha mãe. 5 meses sem ti.
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