Quando comecei a fazer televisão,
queria ser o melhor e que o país me conhecesse. Ocamente queria ser o melhor
empregado de mesa da TV, como se isso me fizesse gente. Depois quis ser
conhecido, como se isso determinasse a minha identidade televisiva. Felizmente
caí na terra a tempo. Passados 20 anos, quero fazer bem o meu trabalho e que em
cada momento televisivo eu consiga transmitir algo de bom, construtivo,
edificante, tolerante e inspirador. Eu sei, sonho alto. Mas para que servem os
sonhos, se não acompanharem o voo dos pássaros.
Tenho pena que em alguma
televisão que se faz o compromisso do entretenimento e informação se confundam
com espetáculo de palhaços tristes, mas pintados com largos sorrisos. Se use e
abuse dos sentimentos de fragilidade, de vidas simples, de sotaques que ao
invés de serem genuínos, são forçados e ridículos, e haja um certo orgulho em
ser-se arrogante, ignorante e quase que bobo de uma corte, que já não existe, a
falar de um país que já não é assim.
Somos um país diferente, sabem?
Em trás os montes não há só velhinhos vestidos de negro, com muito respeito
pelos que ainda existem. No Minho não se toca só concertina à desgarrada, no
Alentejo não existe só sestas e calor, o algarve não fala inglês em vez de
português. Somos um país diferente, e tenho pena que alguns portugueses, por
uns trocos, vendam a sua identidade para fazer espetáculo, e as televisões
peguem neles e os coloquem como que embaixadores de uma região. Tenho pena que
a informação, seja, por vezes, mais centralista que os nossos governos. Tenho
pena que os sotaques sejam ainda vistos como “ modos tão giros e super
diferentes de falar, ai eu adoro!!!” Só falta mandar amendoins para as
gentes de outras bandas, para tocarem o sino, como se fazia no zoo em Lisboa ao
elefante carismático; ainda bem que o tempo também aí mudou.
Mas também me agonia apoiar-se
que venham habitar o interior, cheios de regalias, como se fosse um exílio a
que se marcham, e quem vive nessas terras e lugares continue a trabalhar, sem
incentivos por não ter deixado para trás a sua terra. Caramba, é assim tão
difícil de ver o todo em vez da parte?
O circo que se monta à volta das
pessoas e das terras que heroicamente são fieis a si mesmas, é triste e de
profunda ignorância e quase xenofobia cultural. Igualmente triste é que é
dessas terras e lugares que surgem algumas personagens televisivas, e que têm
uma certa vergonha do seu ser, e assim se vendem, como se a identidade tivesse
um preço, e fosse a televisão lavar o que as pessoas sempre serão, de onde vêm,
e para onde irão. Para onde irão? É o que gostava de saber.
É isto. Mas viva a liberdade!