Nunca sentimos tanta falta de abraços, de mãos, de olhares, de colo, de toque da pele com pele. Porque nunca pudemos tão pouco como agora. Ainda há um mês que nos abraçávamos antes do jantar com aquele grupo de amigos e dávamos a mão no concerto, quando acontecia aquela canção. Tudo muda tão rápido. Já viram? E só queremos saúde para poder viver os abraços de novo. E tudo se resume à essência. Não há economia sem pessoas. Não há empregos sem pessoas, nem fronteiras, nem hotéis e restaurantes.
A humanidade precisa de humanismo para se cumprir. Precisa do amor da tolerância, da consciência que ao dividir tudo chega para todos; a humanidade precisa de atenção, de compaixão, de humildade, de silêncio. A humanidade precisa de gente que se cale porque estamos fartos da sabedoria saloia. Calem-se um pouco. Deixem a vida acontecer e contar ela a história. Não estamos em época de grandes risos e festarolas, o mundo luta contra a morte, nós fugimos da morte, da nossa e daqueles que amamos. Temos medo que não chegue para todos, que não chegue para nós, e para os que amamos. Então? Porquê os risos forçados, aturar os comentadores que até aqui desacreditavam os dias que vivemos? Eu não quero fatalistas, mas também não quero os falsos da esperança que vociferam umas palavras cheias de clichés para ficarem bem na fotografia, de um dia que não sabemos se será melhor que o de amanhã. Calem-se, só um bocadinho. As televisões, as rádios, a internet, todos falam demais. Precisamos de serenidade, e não de camuflar a verdade com uma alegria tonta. Ouçam música, leiam poesia e romances, aproveitem o sol na pele, os rebentos das árvores, o vento que nos entra pela janela. Olhem para aqueles que amam. Plantem flores em vasos novos, e calem-se um bocadinho. O mundo, a humanidade, precisa de silêncio para se sarar e concentrar na cura. Haveremos de voltar aos abraços. Vão ver. Mas para já, recolhamo-nos, porque o mundo não está para solenidades e cortesias.
Resguardem-se e confiem. Estejam atentos a quem vive perto de vocês e cultivem o silêncio da confiança.
Hélder
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