Quando passar esta pandemia vamos
perguntar-nos se ficamos na mesma. Como cidadãos, maridos e mulheres, filhos,
trabalhadores, artistas, empreendedores, cuidadores, clínicos. Se o limão
apanhado no jardim terá o mesmo sabor? Se a saída à praia vai ter a mesma intensidade,
se o abraço vai saber a gesto ou a músculo? Iremos perguntar o que realmente
importa? Quem realmente importa? Para que é que, realmente, nos importamos?
Ou, somos todos de memória curta,
e só muda no primeiro mês? É o mais provável. Exceto se nos morrerem com este
vírus, vamos esquecer. Acho que é o que vai acontecer, a não ser que nos mordam,
esquecemos sempre que os animais podem ser violentos.
Dar a mão vai ter mais pele do
que emoção? Será? Vamos prevenir mais do que remediar? Acho que não, mas
gostava que sim. Precisamos muito de colocar no topo da lista as pequenas
coisas, diminuir nas listas de compras e ler mais poemas, romances, livros.
Precisamos de viver mais a casa, a mesa, a cama, quem nos faz família.
Precisamos do silêncio. Sem raivas de barulho. Precisamos de nos colocarmos
inteiros nos sítios, e não a metade.
Na verdade, necessitamos mesmo de
parar, dentro da casa para a qual trabalhamos a vida toda, e usufrui-la,
acompanhados, sozinhos, sem medos, nus em frente aos nossos espelhos e
dizermos: eu sou assim, neste lugar que é meu.
Precisamos de comer peras e de
lhes sentir a textura, caminhar descalços na terra, colocar areia na boca e
beber água do mar. Precisamos de falar com as árvores e esperar as respostas,
que podem tardar. Precisamos de fugir dos lugares comuns, cheios de todos, loucos
por preencher cada bocadinho de silêncio e de espaço vazio. Precisamos de rios
mais puros, ar mais fresco e limpo, mares mais azuis, como o céu.
Ainda estou a fazer o meu caminho
neste desapego do que me distrai, de quem me distrai. Fiel a mim, em nome do
amor do que me vai restar quando tudo isto passar.
Saúde, muita saúde para todos.
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