sexta-feira, dezembro 13, 2019

O ABORRECIMENTO DA SOLIDARIEDADE NATALÍCIA



                                                                                      fotografia J.P.F.

O Natal tem tanto de inspirador, meigo, acolhedor, luminoso, como de enjoativo, despropositado e teatral. Não estou a falar da saturação de mesas cheias, quando nem metade se come, e de famílias que jantam em plena paz armada e que basta um dizer que o bacalhau está salgado para se começar a discussão sobre tudo o que estava entalado!

Falo da solidariedade "nataleira". Li um artigo de psicologia que diz:  

“o mecanismo de doação" motiva e mobiliza as pessoas de forma subjetiva a materializarem suas dores, penas, amores, sentimentos diversos que vêm à tona, em forma de Caridade.
Além disso, estudos baseados em neuroimagem e neuroquímica cerebral observam maior funcionamento de certas áreas do cérebro e maior libertação de neurotransmissores específicos quando as pessoas estão envolvidas com sentimentos de cooperação, bondade, altruísmo”
Finalmente percebi. A massa social ajuda porque anda cheia de peso na consciência e pensa que num dia a coisa se resolve e já pode começar o novo ano com a tranquilidade de voltarem a ser uns sacanas que acham que meio mundo está contra eles, que a malta que precisa de ajuda são uns trastes à procura de subsídios e que se as pessoas estão mal é porque fizeram por isso.
Na verdade, todos nós vivemos a iminência de um dia a vida nos meter na rua, numa loucura de solidão e desespero, porque a vida não é meiga para ninguém. Ser solidário é um exercício diário, que deve ser discreto, perseverante, humilde, constante, atento, abdicado e muito, mas muito genuíno. Todos temos um lado mais luminoso, e quanto mais luz dermos, mas o nosso rosto de iluminará.
Se mais vale ajudar uma vez, nem que seja só pelo Natal, do que nenhuma vez? Eu acho que mais vale estar quieto e num dos desejos do próximo ano incluir ser solidário, assiduamente.






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