fotografia J.P.F.
O
Natal tem tanto de inspirador, meigo, acolhedor, luminoso, como de enjoativo,
despropositado e teatral. Não estou a falar da saturação de mesas cheias,
quando nem metade se come, e de famílias que jantam em plena paz armada e que
basta um dizer que o bacalhau está salgado para se começar a discussão sobre
tudo o que estava entalado!
Falo
da solidariedade "nataleira". Li um artigo de psicologia que
diz:
“o mecanismo de doação" motiva e mobiliza as
pessoas de forma subjetiva a materializarem suas dores, penas, amores,
sentimentos diversos que vêm à tona, em forma de Caridade.
Além disso, estudos baseados em neuroimagem e
neuroquímica cerebral observam maior funcionamento de certas áreas do cérebro e
maior libertação de neurotransmissores específicos quando as pessoas estão
envolvidas com sentimentos de cooperação, bondade, altruísmo”
Finalmente
percebi. A massa social ajuda porque anda cheia de peso na consciência e pensa
que num dia a coisa se resolve e já pode começar o novo ano com a tranquilidade
de voltarem a ser uns sacanas que acham que meio mundo está contra eles, que a
malta que precisa de ajuda são uns trastes à procura de subsídios e que se as pessoas
estão mal é porque fizeram por isso.
Na verdade,
todos nós vivemos a iminência de um dia a vida nos meter na rua, numa loucura
de solidão e desespero, porque a vida não é meiga para ninguém. Ser solidário é
um exercício diário, que deve ser discreto, perseverante, humilde, constante,
atento, abdicado e muito, mas muito genuíno. Todos temos um lado mais luminoso, e quanto mais luz dermos, mas o nosso rosto de iluminará.
Se mais vale
ajudar uma vez, nem que seja só pelo Natal, do que nenhuma vez? Eu acho que
mais vale estar quieto e num dos desejos do próximo ano incluir ser solidário,
assiduamente.
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