Ora viva
Há dias parei para falar com um casal de vizinhos. Ele 83. Ela 91. Casados há 65 anos. Passeiam-se de mão dada. Gostam de ir juntos ao café e passearem-se, sem tempo, pelas ruas onde sempre se fizeram.
De que falarão? Como se amarão? Em conversa, descobri que falam deles, das flores que esperam nascer, do cão que tem de se vacinar, dos planos para o jantar. Descobri que se riem um do outro habitados na sua velhice. E o amor? O amor é isto, Sr Hélder. O amor é o tempo dos dias. Disse-me ele.
Deram as mãos e foram ao seu tempo, eu já lhes tinha roubado minutos que chegue. Deve ser isso, o amor dos 60 anos gosta de flores e fruta da época. Gosta de passeios lentos e mãos dadas. Não gosta de muitas perguntas por segredos e conversa fiada. Gosta de sorrir mais do que cara séria, deve ser isto a reconciliação.
Não sei nada do futuro. Provavelmente não será muito mais interessante do que comer só a fruta da época. Porque amanhã o tempo a pode estragar, tal como pode arruinar os meus meticulosos planos para o futuro.
- Até amanhã