ano 1998
Há uma liberdade, ou muitas
liberdades que cabem na grande e única liberdade? E o que é ser verdadeiramente
livre? Podes ser livre preso ao corpo inerte, ou és livre numa mente sem
amarras? Somos livre porque nos vestimos como queremos, dizemos o que pensamos,
agimos com a vontade, não nos reprimimos, somos sexualmente o que somos e somos gente na plenitude do ser-se? É isto?
E chega-nos? Claro que não. Temos
a liberdade, conquistamos a liberdade, ou vai-se adquirindo liberdade com o
tempo? Nascemos livres, ou condicionados logo à nascença? E onde, onde é que
nos sentimos verdadeiramente livres? Dentro ou fora de nós?
Eu sou um pensador assumido. Fraco filósofo, mas dou tempo ao pensamento... E
estas questões batem-me à porta dezenas de vezes ao dia. Não tenho respostas
para quase todas. Mas exercito a minha liberdade diariamente. Não me contrario
na felicidade e na tristeza, deixem-me estar. Não me obrigo a quase nada que
não me faça bem. Não estou com quem não gosto, sempre que posso escolher. Faço
o que me apetece fora das conveniências. Sim… ando no caminho da liberdade.
Honestamente, acho que há uma liberdade, a maior de todas, que se chama
maturidade. Infelizmente com a adultez
vem os desprendimentos do que até era agradável, mas não me fazia bem. Vem o
luto. Vem uma série de dores. Não acho nada que a vida seja sofrimento, mas
acho que, claramente, há uma dose de sofrimento inerente ao ser-se maduro, por
conseguinte, ao ser-se livre. Tudo, mas tudo, é um exercício. Acredito
profundamente. Nós podemos ser tudo, na dose do bom, na dose do mau. A liberdade é um grande e pleno exercício. Usufruir dos direitos
à liberdade, pede de nós a maior das provas, a mais inteira das
responsabilidades e seriedade. Não há pessoas sérias que não sejam livres. Não
há pessoas imaturas livres.
Onde somos livres? Eu,
definitivamente, na praia.
Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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