Quando olho para um limoeiro olho
para um lugar perto da perfeição. Frutos que me fazem lembrar o verão de todos
os anos, um aroma a liberdade, a perfeição na cor. Apanhar um limão é a
soberania da vontade própria. Afinal é fácil ser soberano de nós mesmos. Não
que o limão seja o tesouro que nasce nas árvores, mas é a melhor personificação
que tenho do tempo. O meu tempo de infância, quando fazia limões espremidos na
água fresca do poço; o meu tempo de espera para que o limão ganhe a cor certa
para ser colhido, o tempo de o descascar, espremer, para usar à volta de uma
mesa.
Limão e solidão rimam,
provavelmente andam juntos, neste movimento animal da existência. Honestamente,
casam-se bem. Precisamos de limão para uma boa limonada, e de solidão para o
crescimento. Não há outro remédio para a maturidade, uma boa dose de solidão.
Olhar para a janela, perder-se nas paredes de casa, viver no horizonte mais
infinito que avistamos da varanda. Incomodarmo-nos com os nossos pensamentos
até que eles sejam pronunciados. Confrontar a ideia. Chegar perto de um
limoeiro e apanhar um cesto de solidão, e só depois fazer com ela a vida, como
se fosse limonada, como se tudo fosse um solene limão. Da mão ao pensamento, da
boca ao sumo, do corpo à inteligência.
Arranjo gráfico David Reis
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