segunda-feira, janeiro 28, 2019

A força da lareira





Há um momento em senti, agora sou adulto. Quando tive a minha lareira, a acendi, abri um vinho tinto, e usufrui sozinho, à hora que eu quis. Fiz-me homem. É, não foi preciso muito mais.

A liberdade do fazer tem um preço inquestionável. A determinação em conquistar essa liberdade é a prova dos nove de que se é capaz, até pode não apetecer mais. Nunca o lume me aqueceu tanto. Acender uma lareira tem ciência. A lenha miúda no princípio, depois um ou dois paus bem secos e mais adiante um tronco que lhe dê o sustento para o tempo.

Mas o mais importante é que a lenha que vais usar foste tu que a conseguiste. Neste momento és independente.  Porque o fogo que te aquece a casa foi gerado por ti.

Parece simples. Eu sei. Mas não é. Há muita lenha verde a ser vendida como seca e tanta lareira que se abafa no próprio fumo.

HR

terça-feira, janeiro 15, 2019

Liberdade

Deixa que os pássaros te alimentem de liberdade
Deixa-te ter as asas dos bandos que te invocaram
Abre o peito à loucura de seres tu
Mais pássaro que homem
Mais homem que animal
   HR

segunda-feira, janeiro 14, 2019

ROSTOS DE S. TOMÉ






Leve leve. Quem vai a S. Tomé não ouve outra coisa. Um povo doce, um país que explode de verde e tropicalidade, uma pobreza que dói, e sempre um leve leve na boca, como se fosse um credo. Olhos sempre meigos e generosos. Sorriso no lábio escuro e um ritmo acesso no pé.

Quando lá cheguei consegui um guia, na verdade era um jovem que conhecia bem a ilha, e mostrou-a como se fosse a sua casa. Leve leve é o que diz a gente dele. A vida é dura, muito dura, mas levam tudo leve, um mergulho na baia, uma fruta da mata, e amanhã logo se verá. Mas como pode ser leve quando vos falta tanto... Falta? Não falta não, nunca tivemos, não pode faltar. leve leve

Tentei cumprir este leve leve no meu regresso, como se fosse resolução de novo ano. Não consegui. Tenho coisas a mais, na casa e na alma, o que me faz parecer que tudo me faz falta, e sem isso... é pesado o peso da vida. Tenho mesmo de fazer uma limpeza para dar espaço ao leve leve de S. Tomé e Príncipe.

terça-feira, janeiro 08, 2019

CONVERSAS DE ALMA

                                                                                      nos meus 9 anos

O que levas na alma? A minha é pequena, cada vez mais pequena. Disse-me um homem que a alma encolhia com o tempo. E o que levas nela? Levo o essencial, os essenciais, na verdade amor e pouco mais. Disse-me uma mulher que na alma se pode plantar... Pois isso não sei bem, ou até sou capaz de saber, agora que penso. Plantei há dias umas raízes de humildade e honestidade, têm se dado bem, e até parece que a minha alma ganhou outro brilho. Pois foi, plantei na alma, e pegou, como se fosse terra fértil. Achas que a alma é um barco ou um pássaro? Sempre a imaginei como um barco com asas, mas há dias em que é um barco com raízes, olha, depende dos dias. E tu o que levas na tua alma? Eu? Nem sabia que se levavam coisas na alma. Não são coisas. Então? São alimentos para o mais eterno de nós. Queres dizer-me que agora a eternidade também come. É uma outra fome, como a que temos em criança de sermos o que havemos de ser. E a alma, terá fome? Isso não sei. Só sei que tem tempo, tempo tem; tem o tempo para deixar passados e encher balões para o futuro. Tudo na mesma alma? Sim. Só temos uma. Os gatos é que têm 7 vidas e 7 almas. Estás a falar a sério? Claro. Não brinca com coisas da alma!!