O Natal é irritantemente bonito e
bom. Só porque permite que sejamos bonitos e bons uma vez, com a justificação
de que mais vale uma vez bom, do que nenhuma. E lá nos deixamos levar pelas
ondas solidárias, os cabazes de consoada, as mantas para os sem-abrigo, os
jantares bem querentes. Dia 1 de Janeiro. Não temos tempo, adorava ajudar mas…,
as luzes pisca pisca apagam-se e o nosso mundinho fica às escuras, o nosso e o
dos que no Natal beneficiaram da solidariedade das Marias que vão com as
outras. Batemos palmas e somos todos felizes no Natal.
As empresas ganham fortunas com a
solidariedade. As pessoas ganham fortunas por ajudarem e os designados
necessitados ficam felizes uma vez por ano. E batemos palminhas.
Eu não sei se concordo com a
ideia: antes fazer o bem uma vez, do que nunca. Eu não sei se gosto da
solidariedade calendarizada e natalícia.
Contudo, ajudar é sempre ajudar. Quem
precisa, uma única ajudada é abissalmente melhor do que nenhuma. Se gosto do
circo à volta tudo isto, e com presépio e árvore de Natal? Este ano acho que
não gosto. Acho mesmo que odeio, e odiar é tão feio numa altura de paz, amor e
esperança (citação de um postal de Natal).
Há ilhas humanas que são Natal todos os dias, e que estão caladas, resguardadas das bocas do mundo, e são Natal sempre. Eu sei. Mas longe de serem a maioria. Longe de contagiarem o mundo por esta bondade.
Eu faço parte de todos estes
esquemas estratégicos de ser solidário. Não sei é se me apetece para o ano. Todas as palavras que escrevi são para mim, também. Os
40 são tramados.
Feliz Natal
Palminhas! J