Ora viva
Há dias, a propósito da recolha
para o banco alimentar, uma jornalista perguntava a uma criança se sabia para
quem era a comida…resposta? Para os pobres. Fiquei azedo, mas tão azedo. Vivo a
vida com pessoas, muitas e de diferentes raças, sexo, profissões, estatutos, e
antes de se me apresentarem como tal, são pessoas. Exatamente pessoas. Ainda
que o ser “só” pessoa, para determinados indivíduos, possa ser coisa igual a
toda a gente. Pessoa é o que são e serão. Com tudo aquilo que de mais físico e
espiritual a pessoa tem!
Numa das reportagens que fiz esta
semana, entreguei um cabaz de comida a uma instituição, não era oferta minha, e
no cabaz vinha bacalhau. A diretora da casa chorou, chorou porque tinha 12
postas de bacalhau para dar a algumas das 1100 pessoas a quem ajuda contra a
fome. E nunca lhe tinham dado bacalhau, e era uma festa ter aquelas 12 postas. Chorou
por ver o bacalhau e eu chorei por dentro, porque tinha à minha frente uma
mulher que criou uma IPSS há 10 anos, que vive da sua pensão de quase 300 euros
e cujo sonho é fazer a sua cantina social.
Às vezes acho que anda tudo ao
contrário. Os problemas que nos ralam a cabeça no dia-a-dia. A fome que milhões
passam. O que eu não faço pelos outros. O que tanta gente faz pelos outros.
Gostava eu de ter palavras para
agradecer a quem faz da vida a causa social, como voluntário ou
profissionalizado. Quem trabalha para e pelos outros não fecha a porta do
escritório e deixa lá os problemas. Quem trabalha nas casas sociais fecha a
porta da instituição e traz no coração os problemas dos outros, quase sempre
dos outros.
Nunca chamem a ninguém pobre. Nem
rico. Nem doutor. Nem nada que não seja o nome próprio. Aquele que nos assina e
nos lembra o berço de pessoas que somos e para sempre seremos.
até já
3 comentários:
Olá Helder,
Depois de ler este comentário, lembrei-me deste poema do poeta espanhol, Pedro Salinas, que data de 1933.
Eu sou um pronome, assim como tu e ele e os demais. Há nomes e distinções a mais na nossa sociedade.
Obrigada por me fazeres lembrar deste poema, que é uma das mais belas declarações de amor que conheço.
Bem haja!
Para vivir no quiero
islas, palacios, torres.
¡Qué alegría más alta:
vivir en los pronombres!
Quítate ya los trajes,
las señas, los retratos;
yo no te quiero así,
disfrazada de otra,
hija siempre de algo.
Te quiero pura, libre,
irreductible: tú.
Sé que cuando te llame
entre todas las gentes
del mundo,
sólo tú serás tú.
Y cuando me preguntes
quién es el que te llama,
el que te quiere suya,
enterraré los nombres,
los rótulos, la historia.
Iré rompiendo todo
lo que encima me echaron
desde antes de nacer.
Y vuelto ya al anónimo
eterno del desnudo,
de la piedra, del mundo,
te diré:
«Yo te quiero, soy yo».
Obrigada, Helder,
por me fazeres recordar que somos apenas pronomes e nada mais! Ser pronome é ser puro.
Ao ler as tuas palavras, lembrei-me deste poema, que é a mais bela declaração de amor que conheço, amor puro, amor ao próximo. É do poeta espanhol, Pedro Salinas e data de 1933.
Bem haja.
Para vivir no quiero
islas, palacios, torres.
¡Qué alegría más alta:
vivir en los pronombres!
Quítate ya los trajes,
las señas, los retratos;
yo no te quiero así,
disfrazada de otra,
hija siempre de algo.
Te quiero pura, libre,
irreductible: tú.
Sé que cuando te llame
entre todas las gentes
del mundo,
sólo tú serás tú.
Y cuando me preguntes
quién es el que te llama,
el que te quiere suya,
enterraré los nombres,
los rótulos, la historia.
Iré rompiendo todo
lo que encima me echaron
desde antes de nacer.
Y vuelto ya al anónimo
eterno del desnudo,
de la piedra, del mundo,
te diré:
«Yo te quiero, soy yo».
Olá Helder,
Depois de ler este comentário, lembrei-me deste poema do poeta espanhol, Pedro Salinas, que data de 1933.
Eu sou um pronome, assim como tu e ele e os demais. Há nomes e distinções a mais na nossa sociedade.
Obrigada por me fazeres lembrar deste poema, que é uma das mais belas declarações de amor que conheço.
Bem haja!
Para vivir no quiero
islas, palacios, torres.
¡Qué alegría más alta:
vivir en los pronombres!
Quítate ya los trajes,
las señas, los retratos;
yo no te quiero así,
disfrazada de otra,
hija siempre de algo.
Te quiero pura, libre,
irreductible: tú.
Sé que cuando te llame
entre todas las gentes
del mundo,
sólo tú serás tú.
Y cuando me preguntes
quién es el que te llama,
el que te quiere suya,
enterraré los nombres,
los rótulos, la historia.
Iré rompiendo todo
lo que encima me echaron
desde antes de nacer.
Y vuelto ya al anónimo
eterno del desnudo,
de la piedra, del mundo,
te diré:
«Yo te quiero, soy yo».
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