Ora viva
Pés na terra. É das melhores
sensações que posso dar à minha pele. Quando era miúdo lembro-me de andar
descalço pelo campo de milho e adorar sentir a terra entre os deditos dos pés,
e aquando de levar a água ao milheiro, era o deleite total, terra molhada e pé
descalço. São memórias físicas que guardo da agricultura que os meus pais
faziam. Em bom da verdade eu devia ajudar, mas passava mais tempo de cabeça na
lua e de pés engolidos na terra, do que a dar uma mão ao cultivo. Mas sempre me
fascinou a sementeira, a colheita, o pousio para os dias que hão-de vir.
A
agricultura é o melhor exemplo que podemos dar à vida, às coisas, ao amor, às
emoções, à paciência, à perseverança. O agricultor é um vulcão de garra, de
esperança e futuro. Semeia que Deus há-de ajudar, dizem os mais velhos. Na
horta dos dias é a mesma coisa, semeamos na vontade de colher, e isto dá para tudo,
para todos, por muito sábios e bem aperaltados que sejam.
Cada um a seu jeito é
um agricultor de palavras, projetos, construções, lições e sermões, curas e
remédios, sorrisos e engenhos.
Curiosamente, nunca se falou
tanto de futuro com uma arte de tão antigamente: a agricultura. Serena e
paciente, ela vem sempre ter com a gente. É na terra que habitamos, e sem terra
flutuamos. É por isso que gosto tanto de quem faz da vida a sementeira. É gente
de esperança morena pelo sol. É gente de bem, é gente com raízes bem fundas,
como convém a quem se planta nos campos que lavra.
abraços
Hélder
3 comentários:
Boas recordações e boas essências. Que a essência do agricultor nunca falte à humanidade. Parabéns. Belas palavras. O;DDD
Caro Helder
Este "falar" de (agri)cultura sempre nos transporta, no tempo, em que as Artes e os Ofícios eram a base da economia. Reconheço o trocadilho, penitencio-me, e dou comigo a magicar nos porquês.Afinal, "[....]Cada um a seu jeito é um agricultor de palavras, projetos, construções, lições e sermões, curas e remédios, sorrisos e engenhos.[...].
Fico nesta meditação!
Abraços
SOL
A agricultura esteve sempre presente na minha vida, nos laços de pai e mãe. E tal como tu, gosto de sentir o contacto com a natureza, neste caso com a terra e a água. Em miúda, adorava correr pelos campos de milho dos meus avós, o contacto com os animais que criavam. Ajudava na sementeira quer de flores quer de legumes. Ainda hoje, tudo o que ponho na terra da fruto (atenção, tenho apenas 40 anos!) bem como as emoções, a paciência. Ao amor... nada. Acho que me falta um pouco da garra e da esperança mas acho que qualquer dia chego lá. Adoro "semear e colher" palavras, sorrisos (como o do meu sobrinho Gui). Sou do elemento água mas sinto-me muito bem em terra e é lá que temos de ter os pés bem assentes para não cair. Agora fala-se muito do que,, em tempos idos nos tiraram. Abraços SH
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