Ora viva
Pés na terra. É das melhores
sensações que posso dar à minha pele. Quando era miúdo lembro-me de andar
descalço pelo campo de milho e adorar sentir a terra entre os deditos dos pés,
e aquando de levar a água ao milheiro, era o deleite total, terra molhada e pé
descalço. São memórias físicas que guardo da agricultura que os meus pais
faziam. Em bom da verdade eu devia ajudar, mas passava mais tempo de cabeça na
lua e de pés engolidos na terra, do que a dar uma mão ao cultivo. Mas sempre me
fascinou a sementeira, a colheita, o pousio para os dias que hão-de vir.
A
agricultura é o melhor exemplo que podemos dar à vida, às coisas, ao amor, às
emoções, à paciência, à perseverança. O agricultor é um vulcão de garra, de
esperança e futuro. Semeia que Deus há-de ajudar, dizem os mais velhos. Na
horta dos dias é a mesma coisa, semeamos na vontade de colher, e isto dá para tudo,
para todos, por muito sábios e bem aperaltados que sejam.
Cada um a seu jeito é
um agricultor de palavras, projetos, construções, lições e sermões, curas e
remédios, sorrisos e engenhos.
Curiosamente, nunca se falou
tanto de futuro com uma arte de tão antigamente: a agricultura. Serena e
paciente, ela vem sempre ter com a gente. É na terra que habitamos, e sem terra
flutuamos. É por isso que gosto tanto de quem faz da vida a sementeira. É gente
de esperança morena pelo sol. É gente de bem, é gente com raízes bem fundas,
como convém a quem se planta nos campos que lavra.
abraços
Hélder