Ora viva
Há dias, a propósito da recolha
para o banco alimentar, uma jornalista perguntava a uma criança se sabia para
quem era a comida…resposta? Para os pobres. Fiquei azedo, mas tão azedo. Vivo a
vida com pessoas, muitas e de diferentes raças, sexo, profissões, estatutos, e
antes de se me apresentarem como tal, são pessoas. Exatamente pessoas. Ainda
que o ser “só” pessoa, para determinados indivíduos, possa ser coisa igual a
toda a gente. Pessoa é o que são e serão. Com tudo aquilo que de mais físico e
espiritual a pessoa tem!
Numa das reportagens que fiz esta
semana, entreguei um cabaz de comida a uma instituição, não era oferta minha, e
no cabaz vinha bacalhau. A diretora da casa chorou, chorou porque tinha 12
postas de bacalhau para dar a algumas das 1100 pessoas a quem ajuda contra a
fome. E nunca lhe tinham dado bacalhau, e era uma festa ter aquelas 12 postas. Chorou
por ver o bacalhau e eu chorei por dentro, porque tinha à minha frente uma
mulher que criou uma IPSS há 10 anos, que vive da sua pensão de quase 300 euros
e cujo sonho é fazer a sua cantina social.
Às vezes acho que anda tudo ao
contrário. Os problemas que nos ralam a cabeça no dia-a-dia. A fome que milhões
passam. O que eu não faço pelos outros. O que tanta gente faz pelos outros.
Gostava eu de ter palavras para
agradecer a quem faz da vida a causa social, como voluntário ou
profissionalizado. Quem trabalha para e pelos outros não fecha a porta do
escritório e deixa lá os problemas. Quem trabalha nas casas sociais fecha a
porta da instituição e traz no coração os problemas dos outros, quase sempre
dos outros.
Nunca chamem a ninguém pobre. Nem
rico. Nem doutor. Nem nada que não seja o nome próprio. Aquele que nos assina e
nos lembra o berço de pessoas que somos e para sempre seremos.
até já