Ora viva
Lembras-te da casa onde nasceste e te fizeste..e desfizeste daquilo que não querias ser? Lembras-te das tardes de sol, dos lanches apressados porque a vida era uma brincadeira de levar a sério? O jardim bem arrumado, as escadas quentes do sol...à espera de ti para as desceres e subires vezes sem conta. Nem pensavas...para onde me levam as escadas?
E as portas, as janelas, a chaminé, tudo o que nos nossos desenhos ganhavam uma espécie de vida com olhos e boca, e era a nossa casa. E o cheiro!? Da cozinha no Natal? Dos almoços de domingo, melhorados por ser dia solene. E lá permanecia a casa...a ver o tempo passar e nós nem pensávamos que o tempo passava para outra coisa que não fosse a brincadeira que se seguisse, e o tempo passa da luz para as sombras, da morte para a vida, da vida para outra coisa chamada saudade e que tem uma insaciável fome.
E quando cresces e vês esta casa envelhecida, com o tempo a fazer das suas. As coisas lá estão, paradas e pousadas. Carregadas de sombras e de memórias. Malditas e benditas memórias sejam vós! Agora somos nós que vemos a casa, desejosa que o tempo regresse aos almoços de domingo. E tudo vai longe. E o longe não volta. E nunca nos disseram isto enquanto perdíamos horas a brincar com o tempo, o mesmo que um dia nos faria falta à juventude.
E como havemos lidar com esta dor do fim e do perto do fim. Do adeus e do quase adeus. Arranha-nos, não os joelhos das brincadeiras, mas a alma, porque agora somos gente séria de alma dolente e madura, e gente de poucas brincadeiras. Tem de ser. Tem que ser. Tenho de Ser.Eu e a casa. A que fica e a que não volta.
Até breve
Hélder